Dar é receber
Numa sociedade cada vez mais individualista, foi com surpresa que Martin Seligman descobriu esta desmesurada importância dos outros nas nossas vidas. Percebeu-o, sobretudo, quando pediu a um grupo de alunos que dedicassem um dia apenas a actividades que lhes dessem prazer e o seguinte a fazer somente coisas que dessem prazer aos outros. Curiosamente, todos reportavam maiores níveis de satisfação no seu dia «filantrópico».
Os cientistas estão fascinados com a cascata de efeitos positivos que se regista sempre que se é generoso. Segundo Christopher Peterson, da Universidade do Michigan, «o voluntariado faz-nos distrair da nossa própria existência», e «ajuda a dar outro sentido à vida, porque passamos a ser importantes para outras pessoas». Isabel Namora, 51 anos, já nem concebe a sua vida sem o seu trabalho de voluntariado na Coração Amarelo – uma associação de apoio aos idosos que vivem sós, nas grandes cidades. Percebe-se o amor que coloca no que faz, enquanto vai conversando com Irene Assunção Mendes, 90 anos, uma das oito pessoas que ajuda, na luta contra a solidão. E diz, sem reservas, que este trabalho é hoje a sua maior fonte de satisfação. Não teve filhos e o marido – «com quem vivi 29 anos da mais pura felicidade» – morreu abruptamente, vítima de um cancro galopante, no ano passado. Poderia ter-se fechado em casa, mas percebeu, quando soube da existência do Coração Amarelo, que viver enredada na sua tristeza não fazia sentido. Havia outras pessoas tristes e sós a quem dar a mão. E foi assim que, sem quase dar por isso, voltou a sorrir.
«Sinto-me muito bem quando vejo que contribuo um bocadinho para a felicidade destas pessoas. Foi uma graça de Deus o momento em que liguei a TV e ouvi falar desta associação», diz.
Conforto, alegria, paz interior. Estas são as recompensas prometidas aos que têm fé, o que leva os investigadores a concluir que quem segue alguma prática religiosa sadia é tendencialmente mais feliz e possui maior capacidade para ultrapassar as adversidades. Segundo a revista Time, só o Centro de Espiritualidade, Teologia e Saúde da Universidade de Duke, nos EUA, publicou mais de mil artigos científicos sobre as relações entre a religiosidade e a saúde mental, nos últimos dois anos. Estes estudos indicam que as pessoas religiosas sofrem menos de depressão e ansiedade e que estão mais capacitadas para lidar com crises de vida, como um divórcio ou uma doença grave.
A grande questão, ainda sem uma resposta definitiva, é «porquê?». Uma das razões parece ser o facto de se participar em cerimónias de grupo e pertencer a uma comunidade disposta a prestar apoio espiritual e social.
Outra razão poderá esconder-se na origem da palavra «religião», do latim religio, re-ligar. Ou seja, encontrar na ligação a Deus, Alá ou Buda um caminho de vida que faça sentido e tenha directrizes claras, num mundo cada vez mais confuso.
O coreógrafo e bailarino Rui Lopes Graça, 40 anos, comprova que é uma pessoa mais feliz desde que pratica o budismo de Nichiren Daishonin. Mas por nenhuma das razões indicadas. O budismo ensina-o, sobretudo, a estimular o seu lado Buda, ou seja, o melhor que existe em si, e a exercitar essa paz e bondade em todos os momentos da sua vida. «Só assim faz sentido. De que serve a muitas senhoras irem à igreja se, depois, não cumprimentam o vizinho de cima e o de baixo?», insurge-se. «De que me serve lutar pela paz mundial se, depois, estou em guerra comigo e com a minha família? A paz e a felicidade começam a construir-se em cada um de nós. E é a partir de nós que se espalham», acredita.
O psicoterapeuta e (também) budista norte-americano Mark Epstein defende o mesmo ponto de vista de Rui Lopes Graça e fala deste paradoxo em que vivemos: «Por um lado, consideramos a felicidade um direito e vivemos na ansiedade de a obter, como o mundo da publicidade tão bem sabe. Mas, por outro lado, esforçamo-nos pouco para a alcançar e tendemos mesmo a denegrir a busca da felicidade como algo vazio e superficial.»
Façam favor de serem felizes.
Equipa Sorrir
geral@sorrir.com
www.sorrir.com
Ser Feliz, é uma decisão?
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home