Regresso
No blog da SORRIR gostamos de dar voz a todos os sorridentes sejam sócios, utilizadores ou voluntários… Por isso aguardamos contribuições.
O texto que se segue é de uma voluntária da SORRIR a Sandrina Pereira.
Obrigada Sandrina pela tua colaboração.
Se realmente a vida te ensina algo útil, se de algo te vale a experiência, é para saber que não existe regresso.
Em termos científicos é óbvio: o tempo que passou não pode voltar, ao menos nas dimensões cartesianas em que nós nos movemos.
Em termos de alma, é só um desejo e igualmente impossível. Quantas vezes fizemos tentivas, vãs é claro, de retroceder, de tentar voltar a colocar-nos em algum ponto do passado que desejamos vivamente? O esforço é inútil. Aquele lugar, aquele momento, não são passíveis de repetição. A magia que recordamos (por outro lado, talvez idealizada pela passagem do tempo), já não existe. Talvez existam outras magias, mas não aquela.
Aferrar-se ao passado, é talvez um sintoma de infelicidade, de falta de presente, de ideias, de objectivos. O passado deve estar aí para a lembrança e prosaicamente, para não cometer os erros de outrora.
Querer retornar, além de absurdo é impossível, conduz à negação da tua actualidade, de que o presente tem um sentido que há que elaborar.
E se não o tem, o regresso impossível tornará mais impossível procurá-lo, conduzindo-nos a uma perda de sensibilidade actual, fazendo mais do que nunca actuais as palavras de Tagore "Se choras porque não vês o sol, as tuas lágrimas impedir-te-ão de ver as estrelas". No entanto, os homens empenham-se muitas vezes, a braços com a nostalgia, em voltar ao passado. Não é mau voltar aquele lugar, recordar aquela melodia, sempre que saibamos que o que sentimos antes já nunca voltará a ser o mesmo.
Viver no passado é triste, ainda que o passado seja maravilhoso, porque para além de sermos incapazes de aceitar a realidade, tampouco estamos preparados para construí-la.
Se olharmos para o espelho, que imagem vemos? Certamente a actual, gostemos ou não. O segredo é a aceitação de nós próprios em cada momento. O contrário é o desengano, a vida artificial, a inadaptação, que leva à infelicidade.
Bendito presente, porque estou nele. O amanhã ainda não chegou, e o passado já se foi. Não pretendo que esqueçamos, as lembranças podem ser lindas, mas não tentemos voltar. Aquilo....já não existe.
Autor: Carlos Borrás, In: "A inutilidade do sofrimento”. María Jesús Aláva Reyes. Editora: A esfera dos livros.
Sandrina Pereira
sandrinap@isa.utl.pt
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