Pequenos nadas
O que as pessoas identificam como aquilo que as poderá fazer felizes não mudou nas últimas décadas, afirma Alex C. Michalos , da Universidade de Guelph , em Ontário, que conduziu pesquisas com 18 mil pessoas, em 39 países. O importante é ter saúde, um bom emprego, amor, família e amigos. E viver com alegria e paz interior. Para o conseguir, defende Michalos, temos de aprender a dar valor às pequenas coisas da vida.
A cultivar e a encontrar tempo para fazer o que nos dá prazer – ouvir música, ler ou jardinar.
Vendo a serenidade de Vera Nobre da Costa, 53 anos, enquanto trata do seu pomar zen – seguindo as regras das construções japonesas do século VI –, fica-se convencido. Foi no jardim da sua casa do Estoril que a ex-presidente da multinacional de publicidade Young & Rubican foi podando e dando forma ao equilíbrio que ambicionava para a sua vida, depois de ter posto um ponto final numa carreira brilhante. «Após 20 anos de trabalho intenso e de uma vida passada em aviões e hotéis, entre Lisboa, Paris e Nova Iorque, achei que tinha de mudar tudo», explica. Hoje, trabalha apenas duas tardes por semana, como presidente não-executiva da Mc Cann , e dá aulas a doutorandos do ISEG. «Tinha uma situação económica confortável que me permitiu tomar esta opção e, agora, garanto, não voltava a trabalhar todos os dias numa empresa nem por todo o dinheiro do mundo. Gerir a totalidade do meu tempo, à minha maneira, e poder dedicar-me só às coisas de que gosto – esse é o meu luxo.»
Torna-se mais fácil perceber a onda de negativismo dos portugueses quando se verifica que são os mesmos que adoptaram a expressão «matar o tempo» – a maioria não tem interesses além do trabalho e quando se reformam entram em processos depressivos difíceis de contornar. Sem hobbies, passam 85% do seu tempo livre em frente da TV e têm como actividade preferida de fim-de-semana passear em centros comerciais. Mais de 50% nunca entrou num museu, 88% não faz exercício físico e 67% não lê um único livro por ano. Se pensarmos que 49% joga no totoloto ou na lotaria, constatamos que os psicólogos têm razão quando alertam para o perigo de fazer depender a felicidade de sonhos irreais. «A maioria pensa que poderá ser feliz se conseguir comprar um determinado carro, ou uma certa casa. E até lá?», pergunta a psicóloga Helena Marujo, fazendo notar que «as pessoas felizes são as que conseguem aproveitar sempre o melhor do que vão recebendo».
A felicidade não deve, sobretudo, ser encarada como inatingível. Nem como algo que está à nossa espera, algures, no futuro. A felicidade está nos pequenos nadas, como dizia o cantor. Está nesse momento, em que se saboreia um café e se lê esta revista. No rodopio de uma criança que dança no jardim, sob uma chuva de flores. Ou no instante em que se salta da cadeira e se grita: Goooolo!
Façam favor de serem felizes.
Ana Afonso
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Equipa Sorrir
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Ser Feliz, é uma decisão?